3 de setembro de 2016

Esse cabelo cacheado meu?
Foi feito para você encher de flor.
Ainda dá tempo!

Volte antes da primavera chegar.

1 de setembro de 2016

Sem vaga

Existe um poema dentro de um ônibus lotado
Às 6 da tarde?
Numa fila de hospital?
No vazio da morte
Ou na dor?
Numa população esfomeada de livros,
habita algum lirismo?
Como escrever quando o corpo só quer descansar de tudo
E os olhos se abaixam
E as mãos enfraquecem
De abraços.
Da onde vem o verso
Quando só sobrou o osso?
Quem pode criar
Sem a argamassa necessária da esperança,
Amor,
Fé,
Em um mundo desesperado por pão,
Paz
E giz?
Leio os classificados do mundo:
não há vagas para a poesia.
Gostaria de ser a florista errante das ruas cinzentas
carregando versos como quem leva a própria vida;
A catadora de ossos no cemitério das palavras;
Gostaria que meu ofício fosse voz
além da minha cabeça,
mas estou cada vez mais só.
O caos engole os mortos,
Os vivos onde estarão?
Eu poderia escrever sobre tudo,
Deveria escrever porque o tempo está acabando.
Hoje só quero dormir:
Não há vagas para mim.